9 julho, 2020
Obesidade e microbiota intestinal
A obesidade é um problema global de saúde pública e a prevalência é crescente. Conforme estatísticas mundiais, 340 milhões de crianças e adolescentes possuem sobrepeso ou obesidade e 650 milhões de adultos, cerca de 13% da população, foram diagnosticados com índice de massa corporal igual ou acima de 30 Kg/m². Segundo dados recentes da VIGITEL, 19,8% dos brasileiros possuem obesidade, que é uma doença crônica, caracterizada pelo excesso de tecido adiposo e que pode estar relacionada à diversas causas como: padrão de alimentação e outros fatores ambientais, emocionais, genética e estilo de vida. Nos últimos anos, pesquisadores têm dado ênfase ao papel da microbiota intestinal em desordens metabólicas e no aumento da adiposidade corporal.
A microbiota intestinal desempenha funções importantes no nosso organismo e consiste em um agregado de microrganismos, onde é estimado ter cem vezes mais genes do que o genoma humano. O desequilíbrio entre esses microrganismos é denominado disbiose e está associado ao predomínio de bactérias patogênicas e redução da diversidade bacteriana. Essa desregulação parece contribuir para prejuízos na imunidade e aumento da vontade de comer, da inflamação em órgãos e tecidos, do risco de resistência à insulina, síndrome metabólica, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, obesidade, entre outras alterações que podem ter etiologia multifatorial.
Acredita-se que a colonização de bactérias intestinais tem início na gestação, ainda intraútero, e que pode ser influenciada pelos seguintes fatores: tipo de parto, sedentarismo, nível de estresse, exposição solar, qualidade do sono, idade, uso de medicamentos, higiene, tabagismo, genética, alimentação ocidentalizada, etc. A dieta ocidental é caracterizada pelo excesso de alimentos ultraprocessados, nutricionalmente desbalanceados, com elevada densidade calórica e baixo valor nutricional. Esse padrão alimentar é pobre em fibras e rico em açúcar, gordura saturada e hidrogenada e aditivos químicos incluindo corantes, conservantes, realçadores de sabor e emulsificantes. O consumo habitual desses produtos está associado ao aumento de lipopolissacarídeos na corrente sanguínea, ativação de vias inflamatórias e, consequentemente, alteração na composição da microbiota intestinal e desenvolvimento da obesidade.
Por outro lado, a alimentação saudável e a mudança do estilo de vida podem ter efeito protetor e anti-inflamatório. A dieta equilibrada parece contribuir para redução da inflamação local e sistêmica e do armazenamento de gordura no tecido adiposo. O consumo adequado de frutas, legumes, verduras e fibras dietéticas tem sido relacionado com a melhora do perfil imunológico e metabólico, aumento da saciedade, manutenção do peso saudável, promoção da saúde intestinal e prevenção de doenças. Em se tratando de alimentação equilibrada, seguem algumas recomendações:
-Prefira alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias à produtos ultraprocessados;
-Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades;
-Aumente o consumo de frutas e hortaliças: a OMS recomenda a ingestão diária de 5 porções ao dia;
-Privilegie uma alimentação colorida e evite a monotonia alimentar. A variação de nutrientes e compostos bioativos geram diversos benefícios à saúde;
-Grupos de alimentos não devem ser excluídos de forma aleatória, procure um nutricionista para orientação;
-Mastigar devagar, evitar comer em pé ou andando e se alimentar em lugares tranquilos são atitudes que permitem apreciar adequadamente a alimentação. Além disso, as características do ambiente podem influenciar na quantidade de alimentos que ingerimos;
-Comer com atenção e evitar distrações como celular e televisão na hora da refeição é importante para se desfrutar do que está comendo e para o controle da ingestão alimentar;
-Procure ter rotina. Faça as refeições em horários semelhantes e evite “beliscar” ao longo do dia;
-Evite o consumo de ultraprocessados, como biscoitos recheados, refrigerantes, bebidas adoçadas e embutidos. Os ingredientes e métodos de processamento modificam desfavoravelmente a composição nutricional.
-Planeje o cardápio da semana com antecedência e evite redes de fast-food. Dê preferência à locais que servem comida caseira para dar à alimentação o espaço que ela merece.
Vívian Coimbra
Nutricionista Clínica; Mestranda em Nutrição Clínica pela UFRJ (linha de pesquisa em microbiota intestinal e obesidade); Pós graduada em Nutrição Clínica pela UFRJ; Pós graduanda em Nutrição Clínica Funcional; Nutricionista em treinamento profissional do Programa de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ e Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil, 2020: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2020.
Brasil. Ministério da Saúde . Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
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Shabana, Shahid SU, Irfan U. The gut microbiota and its potential role in obesity. Future Microbiol, 2018
Tamburini S. et al. The microbiome in early life: implications for health outcomes. Nature medicine, 2016.
WHO. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Geneva: World Health Organization, 2003.
______. Global Health Estimates 2016: Deaths by Cause, Age, Sex, by Country and by Region, 2000–2016. Geneva: World Health Organization, 2018.
______. Noncommunicable Diseases (NCD) Country Profiles. Geneva: World Health Organization, 2018.
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